Os perigos do elogio e sua importância

Shirley Amaral
psicóloga, psicanalista, pedagoga
e especialista em psicopedagogia.
shirleycaamaral@yahoo.com.br
Todos nós gostamos de receber elogios, principalmente quando são sinceros e descompromissados, e não esperam receber nada em troca. Para a criança, o elogio é uma força poderosa, pois funciona como estímulo para que ela busque e enfrente novos desafios sem medo de errar e ser severamente criticada por isso. Uma criança confiante, reconhecida pelo que faz e pelo que é, buscará em sua trajetória novos estímulos por meio de atitudes cada vez mais corretas e adequadas.
A verdade é que o elogio pode apresentar-se como força destrutiva, ou produtiva.
Vejamos por parte: o elogio valorizador é destrutivo; já o elogio apreciativo é produtivo. Nunca podemos dizer a uma criança: "Você está indo muito bem", "Você é um bom menino". Todo elogio que caracteriza julgamento deve ser evitado, porque ele não é útil.
Ele gera ansiedade, incita a dependência e evoca defesa. Este tipo de elogio, quando feito principalmente à criança, não promove nela confiança. Qualidades pessoais pedem ausência de julgamento, e tal tipo de elogio impede a criança de ser ela mesma. Para ser ela, a criança precisa estar livre e solta de qualquer elogio que denote avaliação. Elogio avaliativo pode ser comparado a droga. Num primeiro momento, faz a criança sentir-se bem, mas causa dependência. Já o elogio com características produtivas contribui para o crescimento, pois ele descreve os esforços e as realizações da criança, explicitando de forma clara os sentimentos do adulto.
O elogio produtivo é positivo, ao contrário do elogio avaliativo. Não avalia a personalidade e muito menos julga o caráter da criança. Vejamos um exemplo: Rafael ajudou a mamãe a limpar o jardim. De vez em quando, ela o elogiava, dizendo – "Vejo que você tem um monte de folhas... dois montes de folhas...gostei muito de sua ajuda!".
Ao elogiarmos uma criança não podemos perder de vista que a avaliação dever ser dela e não nossa. Temos que descrever os atos, sem avaliar e sem julgar.
O elogio manifestado de forma positiva insere na memória da criança sua autovalorização, o que contribui para o seu autoconceito.
Não defendo a ideia de que se deve evitar corrigir erros ou criticar atitudes e comportamentos inadequados. A crítica bem colocada, centrada no problema em si e não em possíveis deficiências pessoais, é importante para que a criança assimile os erros, podendo assim corrigilos. Neste caso, o importante é analisar o fato em si e suas consequências, deixando de lado comentários pessoais e aplicação de rótulos. Se a criança bagunçou o quarto, é adequada a reclamação a respeito, mas não há necessidade de rotular a criança como bagunceira. Entretanto, não há dúvida de que a valorização do que é bom produz muito mais resultados do que a crítica do que está errado.