
A importância da mãe na constituição da personalidade
Quando nascemos, chegamos ao mundo em um estado de noetenia, ou seja, nascemos prematuramente se comparados a qualquer espécie do reino animal. É fato que não nascemos prontos do ponto de vista neurológico e motor. Mas, por outro lado, há um fato importante que nos ajuda a pensar: em contraposição à prematuridade neurológica e motora, o desenvolvimento dos nossos órgãos dos sentidos são rápidos e precoces. Exemplo disso podemos perceber no recém-nascido, que, mesmo pequenino, já sente perfeitamente as sensações de frio e calor. A audição é um dos sentidos que já está presente desde as primeiras semanas. O olhar também é perceptível, por volta de um mês, e assim por diante.
Características tais sinalizam total dependência, que nos leva a refletir na grande importância da mãe no desenvolvimento da personalidade do filho.É a mãe nosso primeiro objeto de amor, quem supre as necessidades do filho, que no início da vida se encontra em estado de noetenia. Como sabido, o recém- nascido não distingue os limites de seu próprio corpo, as sensações externas e internas se confundem. Progressivamente, ele vai definindo a superfície de seu corpo, seu interior, o que é parte dele e o que pertence ao mundo externo, construindo assim seu esquema e sua imagem corporal. Nesta construção progressiva, seu “eu” vai sendo constituído sempre no processo dialético, pois implica dois opostos: ele e o outro. O imaturo ser humano, quando vem ao mundo, se confunde com este. Não tem definido o que é seu corpo, o que é ele, o que é o outro, o que é o mundo e o certo. A mãe (ou qualquer outra pessoa que cuida dele), os objetos fazem parte dele mesmo. Ainda pequeno e dependente, não tem noção de seu próprio corpo. Exemplo: a mão ou o pé é descoberto como exteriores a ele. Por isso é comum a criança morder seu pé e chorar de dor. É a partir daí que a mãe, no exercício de sua função, desempenha um papel importante na formação da personalidade. Atos como amamentação, o olhar materno (quem em algum momento da vida não tem o olhar da mãe registrado em suas lembranças?), os cuidados com a higiene e com o corpinho do bebê, o aconchego do colo na hora do soninho, todos estes atos contribuem para a construção da personalidade. Ao sugar o seio, o bebê olha para o rosto de quem o está amamentando e, como afirma Winnicott, quando olha para o rosto da mãe, “o que o bebê vê é ele mesmo”. A mãe devolve a ele o seu próprio “eu” e ele vai se tornando menos dependente de obter de volta o “eu” dos rostos da mãe e do pai.
As experiências afetivas sentidas nos primeiros anos de vida, maternas e contidas pela mãe, ficam impressas no bebê de forma bastante significante e irreversível, o que trará possivelmente consequências positivas ou negativas na idade adulta. Finalizando, a relação da mãe com seu próprio corpo, e sobretudo com seu corpo durante a gravidez, será fundamental para a constituição do “eu” e da subjetividade do filho.

Shirley Amaral
psicóloga, psicanalista, pedagoga e especialista em psicopedagogia.
Email: shirleycaamaral@yahoo.com.br