Jornal da Ascipam - Maio de 2010
Canto de Página

Reciclando provérbios...

Devagar se vai ao longe – Prova disso são os caracóis e as tartarugas, que não pagam aluguel: têm casa própria...

tanto bate até que fura – Ficaria mais lógico se fosse ao contrário: água dura em pedra mole tanto bate até que... será que fura?

- Cão que ladra não morde – É preciso ser um perfeito paspalhão para acreditar nessa filosofia. Principalmente diante de um baita pit-bull, bocarra babando, aqueles dentes que nem serra elétrica, aqueles olhos vermelhos expelindo fogo...

- Casa de ferreiro, espeto de pau – Quando não de bambu.

- Filho de peixe peixinho é – Que nada! Conheci por aí uns filhos de dourado que quiseram ser tubarões, já nos primeiros dias de vida. Daí que, tempos depois, foram parar na churrasqueira ou na caçarola, como míseros peixinhos...

- Quem não arrisca não petisca – Bom seria se pudéssemos petiscar sem botar hora nenhuma o pescoço na forca. É muita expectativa por quase nada. Por que não petiscar sem arriscar, já que o ofício de viver é um eterno risco, uma forca por dia?

- Tantas vezes vai o pote à fonte, que um dia lá se quebra – Pode ser, mas é por patetice do dono ou porque se trata de artigo de segunda qualidade. Pote que é pote não leva pancada...

- A ocasião faz o ladrão – Por isso mesmo é que digo: existem ladrões decentes, íntegros, confiáveis... Enfim, excelentes pessoas. Afinal, o velho provérbio nada mais quer dizer que a culpa não é do ladrão, e sim da ocasião.

- Macaco velho não mete a mão em cumbuca – Sinal de que, quando jovem, ele aprontou das suas. Quantas cumbucas até aprender, hem?

- Quem vai à chuva é pra se molhar – Bobo ou doido. Um sujeito normal não faz isso, a menos que esteja fugindo de assaltante ou da polícia.

- Não julgues o teu próximo sem antes te julgares a ti mesmo - Português de primeira, quase bíblico. Mas você já viu alguém se olhar ao espelho e praguejar: cara de pau! Canalha! Ladrão! Ordinário! Hipócrita! Mandrião! Já?

- Os últimos serão os primeiros

– Mas a pagar o pato. É sempre assim: quem vai mais tarde perde assento; quem chega atrasado come comida fria; quem chega depois só encontra resto; quem deixa pra depois chia na multa... Viram?

- Em cada cabeça uma sentença – Ambíguo provérbio! Poderá ser também "em cada cabeça uma besteira"; "em cada cabeça uma vingança", uma traição, uma trapaça e assim por diante...

- É de pequenino... – Já sei: que se torce o pepino. Mas será que os pequeninos de hoje, armados até os dentes pela informática, sabem o que seja "pepino", mesmo sendo ele poderoso tonificante da pele, refrescante dos intestinos? A esta altura dos computadores, eles, os pequeninos, preferem um iphone, um laptop de bolso, um MP4, um ipod, um Ipad, um pendrive legal, um não-sei-lá-o-quê...

- Armar tempestade em copo d’água – Coisa pra mágicos. Por via das dúvidas, fiquemos com a hipótese de que o dono depois de "virar o copo", cismou de armar uma baita tempestade ali mesmo...

- A cavalo dado não se olham os dentes – Se é dado, boa coisa não é: cavalo velhinho, banguela, remelento, dentes podres, sei lá... Sábio conselho: preferível não ver o próprio bicho.

Pedro Moreira

Pedro Moreira

Professor de Português, revisor, consultor, autor dos livros "Casos e Coisas do Pará Antigo", "Cronicontos" e "O Pássaro e a Dona e Outros Textos".