Jornal da Ascipam - Junho de 2010
Em dia com a psicologia

Orientações aos pais

Este texto é uma coletânea de frases ouvidas no decorrer de minha vida e formação acadêmica. Deveriam ser pensadas pelos pais, que são, na maioria das vezes, os primeiros educadores de uma criança. Coisas como ameaças, chantagens, comparações nunca devem ser ditas, a meu ver, a uma criança.

Travestidas de desabafos, essas frases têm o poder de abalar o amor-próprio, a coragem e a iniciativa de qualquer um, e quando se trata de uma criança podem causar estragos irreversíveis para a autoestima dela. A armadilha é que são ditas pelos pais em momentos de tensão e seu sentido destrutivo passa facilmente despercebido. Então, é melhor ficar atento e, se preciso, morder a língua antes de dizer à criança alguns desses impulsivos ataques verbais: 1) Como você é lerdo, sonso, atrasado... Se você falar a uma criança que ela é lerda, boba ou uma peste, esteja certo de que ela vestirá a camisa, ou seja, corresponderá ao rótulo que lhe está sendo atribuído. Faça o contrário: enalteça, reconheça suas qualidades. Para a criança, a palavra dos pais é lei. 2) Espera só seu pai chegar... Você vai ver... Esta frase, muito escutada, é um verdadeiro atestado de fragilidade e denota total ausência de autoridade. A mãe que diz isso não pode se queixar de que os filhos não a respeitem.

Com frases assim, além de perder a própria autoridade, a mulher transforma o marido (pai) num algoz, a quem os filhos devem temer. Os filhos devem respeitar os pais e não temê-los. Portanto, firmeza e ternura devem estar sempre nas ações dos pais. 3) Tão teimoso (a) quanto o (a) pai/mãe... Pai e mãe são modelos a serem seguidos. Por isso, é sempre bom destacar as qualidades de cada um deles, não os seus defeitos. Mas o ideal mesmo é evitar comparações.

A criança pode se sentir presa a um modelo, o que impede o desenvolvimento de sua própria personalidade. 4) Seu pai não presta, não vale nada, ele nem veio te visitar! (ou vice-versa) Usar a criança contra um (a) ex-companheiro (a) é mais comum do que se pensa. Isso não quer dizer que o casal precise fingir que ainda se ama, pois os filhos são suficientemente espertos para perceber que não existe mais amor entre os pais. Mas eles precisam saber que continuam a ser amados da mesma maneira pelos dois. Do contrário, podem até desenvolver a fantasia de que são culpados pela separação, emergindo o que chamamos de "alienação parental". 5) Sua irmã vai tão bem na escola e você não. Ela é tão educada... (ou vice-versa) Dei o exemplo da irmã, mas poderia ser uma prima, ou qualquer outra pessoa do meio relacional da criança. Nada mais inadequado do que comparar qualquer desempenho ou atitude do seu filho com o de um irmão. Claro, ele ficará enciumado, perceberá o irmão ou qualquer outra pessoa ou parente como um rival e não melhorará sua performance nos estudos a partir disso.

Ao contrário, provavelmente vai sentir-se inseguro e pouco estimulado. E, de quebra, ainda pode resolver marcar a "diferença" piorando seu desempenho. Lembrese: nenhuma criança é igual à outra, mas todas podem ser incentivadas a desenvolver seu próprio potencial.

Pedro Moreira

Shirley Amaral

psicóloga, psicanalista, pedagoga e especialista em psicopedagogia.
Email: shirleycaamaral@yahoo.com.br