Canto de Página
Doce pesadelo

Pedro Moreira
Professor de Português, revisor,
consultor, autor dos livros
“Casos & Coisas do Pará Antigo”,
“Cronicontos” e “O Pássaro e a Dona
& Outros Textos”.
Eis senão quando (como diziam nossos avós) dona Maria é intimada pelo Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis – a explicar a presença do papagaio em sua casa, em sendo ele um espécime da fauna silvestre. (A propósito, muita insensatez desse tipo se comete em nome de uma legislação tosca e confusa, capaz de desafiar a sensibilidade dos juízes inteligentes e preparados.)
Isto posto, não há como aceitar passivamente a atitude dos fiscais do Ibama. “Excesso de zelo”, dirão alguns. “A lei é que é burra”, dirão os mais ácidos. Na verdade, a atitude insólita parece ter ofuscado a inteligência dos fiscais, a ponto de fecharem os olhos ao contrassenso que é retirar a indefesa ave daquele novo ambiente, sabidamente saudável e acolhedor, e atirá-la na natureza hostil, sujeitando-a aos perigos, desde o risco da fome à sanha dos predadores.
Não bastasse decisão assim antipática, a desditosa senhora foi multada em alguns mil reais por manter em “cativeiro” (?!!) o inocente papagaio. Constrangedor é saber que Maria percebe por mês a bagatela de trezentos e alguns reais a título de pensão do marido. Mas lá veio a multa.
Acredite quem puder. Com perdão do trocadilho, estamos diante de uma papagaiada. Pior que tudo, patrocinada por uma entidade respeitável quanto o Ibama.
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A cada temporada de formaturas, tenho notado pequena distração nos convites individuais. Os formandos, elegantemente, registram seus agradecimentos àqueles que, de uma forma ou de outra, os ajudaram em sua jornada estudantil, apoiando-os no que foi necessário. São contemplados os pais, avós, irmãos, filhos, amigos, namorados, namoradas (aqueles mais que estas), enfim os que lhes deram suporte nesse momento especial de suas vidas. Estranhável é que, para os primeiros professores (jardim da infância, escolas), justamente os que lhes descerraram o horizonte a seguirem, não sobre uma migalha de agradecimento! Sempre é bom lembrar: gratidão e justiça não ocupam espaço, quanto mais numa frase tecida pelo coração.