Divagando...
A direção de certas editoras de livros parece ter voltado as costas à língua portuguesa. Ora, é de tradição (saudável tradição!) que os originais de uma obra, antes de ela vir a lume, sejam submetidos à ciência de alguém verdadeiramente familiarizado com os segredos do idioma. Trata-se, quando menos, de um procedimento ético em relação ao leitor-consumidor. Afinal, não se pode valorizar a embalagem em prejuízo de seu conteúdo...O que tenho visto, porém, são livros de visual muito bem-acabado, texto de boa qualidade, mas enfeados por desconcertantes agressões à língua.Bem a propósito, tenho em mãos uma preciosidade literária, um livrinho intitulado Relicário-Fragmentos de Amor e Paixão, da jornalista e poeta paulista Fátima Irene. Não, não se trata de um desfile de "lágrimas sentidas", nem corações dilacerados; o leitor vai-se encantar da beleza estética dos versos, todos de delicado lirismo, extravasados em mensagens lindas, como:
"Amei o encanto de tua fala,
a magia de teu sorriso;
amei o teu recato, a tua prudência
e até a tua timidez.
Amei o teu jeito único
e mil vezes te amaria outra vez.
Sobrepaira o mistério da revisão gramatical deste Relicário - aqui e ali manchado por borrões lingüísticos, destoantes de sua forma e conteúdo. Que pena!
O mesmo se diga quanto ao modo de andar. Que ritmo teriam os passos daquelas personalidades - seriam cadenciados, estreitos ou apressados e largos de quem vai para a guerra? A causa mortis das celebridades costuma entrar em suas biografias. Mas as características acima lembradas permanecerão dados intrigantes se a referência for, por exemplo, ao macérrimo Machado de Assis. Haja imaginação!
Fevereiro 2007